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domingo, abril 05, 2009

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Homenagem de um gremista fanático

Por AIRTON GONTOW

Airton Gontow, 47 anos, é jornalista, cronista egremista fanático. Costuma dizer que não é gremista doente, "porque doente é quem torce para o Internacional".

Diante deste lindo céu azul confesso a vocês que torci muito para que os festejos do centenário do Internacional de Porto Alegre não acontecessem em momento assim tão favorável. Afinal, há pouco mais de dois anos, "eles" não tinham nenhum título da Libertadores, Mundial ou mesmo da pífia Copa Sul-americana para ostentar com orgulho em suas camisas, bandeiras e história.

Era a alegria da torcida gremista gritar por longos e felizes 23 anos: "Grêmio, nós somos campeões do mundo" ou "Libertador, Libertador, Libertador, Libertador...", nos grenais e até nas outras partidas em que o Inter nem estava em campo.

Eu mesmo fui a um programa de televisão, em 2006, e quando me perguntaram se eu achava "que o Internacional tinha chances" de ser campeão, respondi: "Sua pergunta está errada", para o espanto do apresentador. "Não existe Internacional. Este time, aliás, deveria ser denunciado ao Procon, porque está vendendo camisetas, títulos de sócios e bandeiras, dizendo que é Internacional, mas não é, porque nunca ganhou nada lá fora! Tem Nacional em Manaus, Nacional em São Paulo. E Nacional em Porto Alegre!", afirmei.

Neste lindo dia de céu límpido e azul conto que torci e sonhei que chegasse o inevitável dia deste centenário com o meu inimigo Internacional sem poder dizer: "Somos campeões do mundo!"

Sonhei, mas diante deste mar e deste céu azuis tenho de confessar que no fundo eu já sabia, que algo me dizia que o Colorado gaúcho também chegaria lá.

Afinal, sempre foi assim. O Grêmio surgiu em 1903. E eles correram atrás e já em 1909, também fizeram time. Surgiu o Gre-Nal e já no primeiro confronto mostramos nosso valor e aplicamos um impiedoso 10 a 0. Pouca gente sabe, mas alguns anos depois houve mais um massacre: 10 a 1 para o tricolor gaúcho. Mas, como na fundação do clube depois do nosso, eles também correram atrás e já em 1915 venceram o primeiro clássico. E depois não pararam mais de nos enfrentar, até que nos passaram à frente em número de vitórias – o que permanece até hoje, com uma vantagem de 22 partidas.

Houve a guerra dos estádios. Cortando parte da história, conto que fizemos o melhor estádio da cidade: a Baixada. Eles resolveram fazer melhor e construíram os Eucaliptos. Mas nós gremistas, bravos e valentes, não deixamos para menos e construímos o Olímpico, o orgulho do Rio Grande. Em 1969, contra-atacaram com o Gigante da Beira-Rio, até hoje o maior estádio da cidade. Mas reformamos o Olímpico que se é um pouquinho menor que a casa deles, ao menos é todo coberto no anel superior, o que não acontece no Gigante, quando boa parte do povão não tem abrigo na hora da chuva. Enquanto dizemos que o estádio deles, feito com o aterro do "rio", é ecologicamente incorreto, os colorados insistem em chamar o agora "Olímpico Monumental" de "Remendão".

O terrível adversário do Grêmio, esse inimigo chamado Internacional, busca, sempre, copiar nossas conquistas, nosso heroísmo, nossas façanhas...

Tá certo que nem foi em tudo que saímos na frente. Foram eles o primeiro time gaúcho a vencer o Campeonato Brasileiro. E o conquistaram três vezes - a última, em 79, invictos (meu Deus, com uma defesa que tinha jogadores como João Carlos, Mauro Pastor e Cláudio Mineiro!). Desta vez foi o meu Grêmio que correu atrás e agora já vencemos dois Brasileiros.

Mas na Copa do Brasil ganhamos quatro vezes. Eles conquistaram um título. E daquele jeito que todo mundo sabe: com um pênalti inventado aos 44 do segundo tempo contra o Fluminense. Também, como disse, vencemos antes a Libertadores. E duas vezes. Ganhamos o mundo uma vez e só não chegamos lá de novo por um destes caprichos do destino, já que depois de empatarmos heroicamente, com dez jogadores desde o primeiro tempo, com o "invencível" Ajax, só perdemos nos pênaltis, quando nossos dois melhores batedores – Dinho e Arce - erraram o alvo.

Durante 23 anos, gritei, sorri, fiz piadas, brinquei enquanto pude, mas o fato é que, como já contei a vocês, sempre soube que deveria aproveitar o momento enquanto pudesse, porque logo eles iriam, como em tudo, nos imitar, fazer igual, fazer um pouco melhor, um pouco pior, chegar perto, passar um pouquinho. Como tantas e tantas vezes nessa história de 100 anos.

Diante deste céu azul eu digo que..Ops! Vejo que já se aproxima o entardecer. Há no horizonte uma linha distante. É vermelha. Agora está mais nítida e começa a se espalhar pelo horizonte e a dividir em parte a magnífica vista que tenho à minha frente.

O mar é azul! O céu é azul! A Terra é azul! Mas confesso que também há encanto e beleza neste tom vermelho que invade mais uma vez o espaço celeste que até há pouco reinava sozinho.

Vou ter me conformar. Está escrito nos céus. Azul e vermelho vão conviver para sempre neste duro, doloroso e lindo duelo.

Agora eles anunciam a grande reforma do seu estádio, no projeto "Gigante para Sempre" E meu Grêmio inicia em breve o projeto de construção da "Arena", o maior e mais moderno estádio do Rio Grande do Sul.

Possivelmente nosso estádio será melhor e o "remendão" será o estádio deles. Mas o verdadeiro duelo não se trava ali, na questão dos estádios. Observem nos cadernos dos guris e gurias. É lá que começa a verdadeira batalha. Há milhares de desenhos, feitos nos intervalos e – convenhamos – mesmo durante as aulas, com projetos de possantes naves espaciais, que os adultos nem sonham que vão existir.

Acho, como me ensina uma história de cem anos, que vamos sair na frente. Seremos campeões do Sistema Solar, derrotaremos os alienígenas também em outras galáxias, até conquistarmos o título de campeões do Universo.

Meus descendentes vão rir muito, tirar muito sarro dos seus queridos inimigos colorados. Vão aproveitar enquanto puderem porque algo lhes dirá que um dia os vermelhos também chegarão lá. Como no Gre-Nal. Como na Libertadores. Como no Mundial. Como neste lindo e inesquecível entardecer de céu rublo e azul.

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